O equívoco de estimular moradias longe do Centro da cidade

Lançamentos de 2019 se concentram na Zona Oeste e desperdiçam o investimento feito na região central

O ano de 2019 foi de recuperação para o mercado imobiliário carioca após retração desde 2015. Segundo o Secovi-Rio (Sindicato da Habitação), de janeiro a novembro a cidade – o cálculo inclui, sem peso, a Baixada Fluminense registrou o lançamento de 30 mil unidades residenciais, um crescimento de 80% em relação a todo o ano de 2018; de 140% na comparação com 2017; e de 100% sobre 2016. A recuperação traz alívio para a economia, e a expectativa de novos postos de trabalho – o ramo da construção civil é grande empregador – é mais do que bem-vinda num estado onde a taxa de desemprego ficou em 14,5% no trimestre encerrado em setembro, segundo a Pnad Contínua do IBGE.

A boa notícia, no entanto, não esconde que o velho equívoco na política habitacional se mantém: a maioria dos lançamentos de 2019 é na Zona Oeste (33,4%), seguida de Barra da Tijuca e adjacências (25,8%), Zona Norte (25,8%), e Zona Sul (10,8%). A Zona Central responde por apenas 2,9% ficando na frente apenas da Baixada, com 1,3%.

Insistir em direcionar a construção de novos imóveis – e a recuperação de antigos – para bairros distantes da região central foge a qualquer critério de planejamento urbano razoável, pois pode exigir do poder público investimentos para fazer chegar a espaços ermos uma infraestrutura saneamento, transportes, eletricidade e comunicações – já existente no Centro há muitas décadas ou mesmo em anos recentes.

No caso do Rio, isso significa desperdiçar o gasto feito recentemente na implantação do VLT, no Porto Maravilha e nos equipamentos culturais do Museu do Amanhã e do Museu de Arte do Rio, entre outros investimentos para a Olimpíada. É insano criar demandas que a prefeitura, o estado e a União não têm a menor condição de atender. A crise fiscal é dramática nos três níveis de poder e qualquer iniciativa na qual esteja contida a mínima possibilidade de gasto governamental futuro deve ser descartada com a firmeza de quem corta o mal pela raiz.

O argumento de que no Centro não há espaço para novos empreendimentos é falacioso. O Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ já estudou o assunto e concluiu que 150 mil novos domicílios poderiam ser instalados com o aproveitamento de glebas vazias e galpões ociosos e abandonados. Isso sem contar a área do Porto Maravilha. Novos moradores atrairiam lojas e cobrariam do poder público a manutenção das ruas. A revitalização não ficaria só no discurso.

FONTE: O Globo

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