No dia em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o Estado de São Paulo como área de risco para turistas por causa da febre amarela, o Rio enfrentou, mais uma vez, problemas na logística de vacinação, com pessoas batendo à porta de postos em que os estoques acabavam rapidamente.
Apesar de alegar ter doses suficientes para imunizar a todos e garantir não ser necessária a antecipação da campanha de fracionamento do Ministério da Saúde, que só começará em fevereiro, o Estado do Rio ainda tem 60% de sua população alvo para serem vacinados, o que corresponde a cerca de 8 milhões de pessoas.
Levantamento do GLOBO revela que esse é um contingente maior que o de São Paulo e de Minas Gerais, onde, respectivamente, 6,3 milhões e 3,6 milhões de pessoas ainda precisam ser imunizadas. O quadro é especialmente preocupante devido ao avanço da doença desde o fim do ano passado.
Nesta terça-feira, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Antônio Nardi, afirmou, durante entrevista em Brasília, que o número de notificações de febre amarela deu um salto de 42% em apenas 20 dias. De 1º de julho a 26 de dezembro, foram 330, e, de dezembro até o dia 14 deste mês, 470.
Na comparação entre os dois períodos, os casos confirmados passaram de quatro para 35, enquanto o número de mortos subiu de um para 20.
Apesar disso, Nardi classificou a decisão da OMS de “excesso de zelo”. Ele também disse que a recomendação da entidade não muda em nada o protocolo de atuação e que a estratégia continuará sendo “vacinação rápida e reforçada” nos três estados. Questionado sobre os parâmetros epidemiológicos para estabelecer se há ou não um surto, ele negou que seja o caso da situação atual, mas não foi específico:
— Quando há um registro astronômico. E nós estamos falando, de agosto de 2017 a janeiro de 2018, em 35 casos confirmados e 20 óbitos.
Produção de vacina é menor
O ministério reconhece que a situação é grave, mas alega que já foi pior. Desde a década de 1980, quando começou a série histórica, o maior surto ocorreu entre julho de 2016 e janeiro do ano passado: foram 271 casos e 99 óbitos confirmados de febre amarela.
O órgão sustenta que dispõe de vacinas em quantidade suficiente para imunizar, de forma fracionada, toda a população brasileira, se for preciso. Mas uma vacinação geral está descartada pelo governo. O total de doses não é divulgado por ser considerado uma informação estratégica.
Diante da cobrança sobre a produção de vacinas, Nardi explicou que este ano o plano é produzir 48 milhões de doses da vacina contra 60 milhões de doses no ano passado. De acordo com ele, é preciso levar em consideração a fabricação de outros imunizantes do calendário nacional de vacinação, como a tríplice viral.
— Se eu hoje fosse colocar a Fiocruz exclusivamente para a produção da vacina da febre amarela, poderia comprometer outra vacina que ficaria desabastecida no mercado — disse o secretário-executivo do Ministério da Saúde.
(O Globo)