Foi dada a largada para os aluguéis por temporada para as Olimpíadas. Na contramão do marasmo que ronda o mercado imobiliário, o evento trouxe boas oportunidades para os investidores. Segundo levantamento do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) no Rio, 80% das unidades disponíveis na cidade com este perfil de contrato já estão alugadas para a época do evento. Além disso, espera-se que todas as ofertas sejam esgotadas na região da Barra da Tijuca e da Zona Sul nos próximos meses.
Parte dessa expectativa vem da alta nas buscas. Faltando menos de cem dias para os jogos, a procura por estes imóveis já é 20% maior do que a registrada na Copa do Mundo, em 2014. Também há uma alta de 20% em relação ao último Carnaval e 30% em comparação com o final de ano, épocas tradicionalmente mais disputadas na cidade.
CONTAGEM REGRESSIVA
— Acredito que, no máximo 30 dias antes das Olimpíadas, não vai haver mais ofertas na região da Barra. Na Zona Sul, esse esgotamento se dará a uns dez dias dos jogos — prevê o diretor do Creci, Laudimiro Cavalcanti.
Com o mar para peixe desse jeito, as diárias ficaram mais salgadas: chegam a R$ 2.500 num apartamento de três quartos na Barra. Houve, inclusive, uma peculiar inversão na lógica do mercado carioca: os valores médios na Barra, principalmente na Avenida Abelardo Bueno, nas proximidades das instalações esportivas, estão maiores do que na Zona Sul. A média da diária num três quartos em Ipanema ou Leblon gira em torno de R$ 900, segundo o Creci. Centro, Glória e Catete têm os preços mais baixos, com diárias de até R$ 550 num três quartos.
Cavalcanti espera que o momento deixe um rastro de oportunidades para o mercado. Como o evento levará uma série de melhorias em infraestrutura para a Zona Oeste, a vocação desta parte da cidade para o turismo será ainda mais sublinhada.
— A gente espera uma valorização imobiliária de até 15% em 2017 — calcula ele.
Quem tem imóvel para alugar divide-se entre expectativa e empolgação. A advogada Ana Leonora faz parte de um grupo de pessoas que administra 20 apartamentos de dois quartos em um mesmo condomínio, em frente ao Parque Olímpico. Ela é dona de um deles, que foi adquirido justamente para este tipo de locação.
— Atualmente, está alugado para um engenheiro que trabalha no Parque Olímpico desde o ano passado. Mas, quando ele sair, seguirei alugando por temporada, porque a região tem muita vocação para isso. Há muitos eventos, obras e grandes empresas naquela área — diz ela.
Ana já recebeu propostas para as Olimpíadas, mas ainda não bateu o martelo. Ela quer fechar os contratos em datas mais próximas ao evento, para conseguir cifras mais altas.
— Espero uma diária de aproximadamente R$ 1.200 — aposta.
Sites que negociam este tipo de aluguel, por sua vez, contabilizam aumento de demanda. No AlugueTemporada, a procura por hospedagem no período dos jogos é 52 vezes maior que no mesmo intervalo no ano passado. Cerca de 80% da demanda concentram-se em três bairros: Copacabana (46,2%), Barra da Tijuca (22,6%) e Ipanema (10,7%). Já o valor médio mais alto está no Leblon, onde uma diária em uma unidade que comporta cinco pessoas sai por R$ 1.464.
— Temos mais de 3.500 imóveis anunciados na cidade. Para o período das Olimpíadas, temos cerca de 1.100 disponíveis para a primeira semana do evento, 990 para a segunda e 1.300 para a terceira — lista a gerente da plataforma, Mariana Bastos, acrescentando que houve bairros que chegaram a dobrar a quantidade de imóveis anunciados entre fevereiro de 2015 e o mesmo mês de 2016.
Já a psicóloga Patrícia, que prefere não revelar o sobrenome, vai aproveitar a ocasião para ganhar uma grana extra e passar uma temporada na casa de amigos, na Serra Fluminense. Ela vai deixar o apartamento de três quartos no Leblon, durante a temporada, para alugá-lo. A princípio, quer negociar diárias de US$ 500, mas está aberta a negociações. Diferente das estimativas do Creci, ela está achando o mercado devagar.
— Acho que está mais difícil que na Copa, porque tem muita oferta. Por enquanto, fechei com uma família de Belém por cinco dias — conta ela.
NOVAS ELEVAÇÕES
Para o professor de MBA em Gestão de Negócios Imobiliários e Construção Civil da Fundação Getulio Vargas, Paulo Pôrto, os preços ainda podem sofrer um aumento de até 15% nos próximos meses. Mas segurar o imóvel para aproveitar essa elevação pode ser arriscado.
— Se esperar demais, o proprietário pode ficar com fome. Já chegamos a um bom patamar — alerta.
Segundo ele, o volume de buscas não está ainda maior porque a rede hoteleira aumentou muito em relação à Copa. Porém, a concorrência com esses locais é vantajosa, sobretudo para o público estrangeiro.
— O valor de R$ 1.600 equivale a cerca de US$ 400. Isso é o valor de uma diária num hotel de quatro a cinco estrelas em Los Angeles — compara ele, destacando o conforto de estar em um apartamento completo, e não confinado em um quarto.
Aproveitar a temporada é bom, mas tomar os devidos cuidados é fundamental para quem aluga. Como recomenda o advogado Arnon Velmovitsky, especialista em direito imobiliário, é importante obter algum tipo de informação do candidato, mesmo estrangeiro, através de buscas na internet.
— Se for brasileiro, o proprietário pode fazer uma sindicância no Serasa. Além disso, no contrato devem constar claramente estado do imóvel, prazo, valor do aluguel e depósito para garantia dos móveis, dos utensílios e do próprio imóvel — aconselha.
OS PREÇOS MÉDIOS DAS DIÁRIAS
Barra (Av. Abelardo Bueno): R$ 1.400 a R$ 1.700 (dois quartos) e R$ 1.800 a R$ 2.500 (três quartos)
Barra (Av. das américas): R$ 1.000 (dois quartos) e R$ 1.300 a R$ 1.700 (três quartos)
Recreio e Vargem grande: R$ 500 a R$ 700 (dois quartos) e a partir de R$ 800 (três quartos)
Copacabana: R$ 500 a R$ 700 (dois quartos) e R$ 700 a R$ 1.000 (três quartos)
Ipanema e Leblon: R$700 a R$ 850 (dois quartos) e a partir de R$ 900 (três quartos)
Centro, Glória e Catete: R$ 300 a R$ 450 (dois quartos) e R$ 400 a R$ 550 (três quartos)
Tijuca e maracanã: R$ 400 (dois quartos) e R$ 500 a R$ 600 (três quartos)
Fonte: Creci-Rio
(O Globo)